Miradas...de mulheres

10 razões para a fluência das imagens

 

 

1.     Uma imensa e comovente vocação. Ignoram a que velocidade o mundo arde. O mundo agora é um lugar extremo, estático, suspenso nas conflagrações da suavidade. Frozen-time, apesar do espaço habitado, do dia e da noite, da qualidade dos astros.

        

        2.     Aqui é tudo prólogo e epílogo, despedida e iniciação, silêncio e bailado.

 

3.     Algumas figuras parecem imóveis, vagamente relutantes. Mas não. Não estão imóveis. Desfilam ao sabor de uma nova mobilidade. Estão até um pouco acima da gravidade, da decência, por detrás da humanidade geral.

 

4.     Os seus ritos ventilam a adoração da liberdade.

 

5.     Se prestar bem atenção, ouço os seus minúsculos diálogos; tentáculos próximos da luz que despejam na ampla tarde confessional; por vezes a chuva, na sua alta impunidade, ao longe, como que perpendicular à lembrança, cai.

 

6.     Amanhã começam a descrever a história do mundo a partir da criação.

 

7.     Eternas filhas da semelhança dissimulada, querem reverter ou profanar o rosto. Elucidar.

 

8.     Estamos diante de mulheres que ascenderam ao máximo do espanto. Claro que todas elas foram concebidas com pecado, mas nenhuma esmoreceu perante a prepotência da maçã; continuam, isso sim, apesar da influência do jardim original, a reflorestar o seu drama, enquanto repousa o chá.

 

9.     Eis um detalhe, um imenso e comovente detalhe: pequenas apoteoses florais emergem das raízes enfunadas dos vestidos (nas costas, terrivelmente decotados), como se aí transportassem o âmago, poderes irrevelados, uma segunda e mais ambiciosa condição:

         o mundo aos seus pés, a terra toda sangue.

 

10.                        Para olhar. E serem olhadas. Sem mais.

 

Texto de André Domingues